terça-feira, novembro 30, 2004

Remendos nos cotovelos das camisolas

Somos do tempo dos Amigos do Gaspar, do tempo em que marionetas tinham piada e os efeitos especiais mais rebuscados envolviam um guarda Xsseródio com pronúncia de Mangualde (há quem diga Sever do Vouga mas não creio…).
Os super poderes do Manjerico eram fazer rir e sobretudo fazer sorrir, depois de ver a amizade e carinho existente entre ele e o seu eterno compincha Gaspar. Era um sortudo o rapazola, em toda a sua feição.
Era bem novita mas tenho os sons e as cores cravadas na memória, um verde vivo e um linguajar em falsete, imperceptível no conteúdo mas tão rico e musical na forma.

- “Tóió sóió Gaspáió? Sóió tóió, tóió sóió!”
- “Não te preocupes com isso Manjerico, na loja da Tia Felismina arranja-se um igual!”



Não havia brindes no Bolicao, nem nas batatas fritas, que raramente havia tostões para comprar. Os flocos de neve não davam cromos e só algum tempo depois surgiram umas pastilhas com tatuagens que a malta comprava só para pintar as mãos e os braços, porque as pastilhas por si só eram uma bela cagada e rijas como tudo. Interessava o invólucro, o conteúdo vinha por acréscimo.
Devaneios de quem tem saudades dum tempo em que usar meias rotas era feito digno de mostrar aos colegas e rasgar as calças, sinónimo de espírito aventureiro. O que eu gostava dos remendos nos cotovelos das camisolas…Ou das joelheiras aplicadas com perícia nas tardes de domingo ao lado da minha mãe na sala de costura... Parece que oiço a máquina a trabalhar aqui ao lado. Sons que são lembranças, cheiros e cores que se tornam momentos passados... Quem te mandou crescer? Eramos os maiores e nenhum Thomas Sawyer nos ficava atrás, se bem que não nos deixavam andar descalços, mas facilmente chapinhávamos nas poças deixadas pela chuva, em concursos para ver quem mais molhava as calças!

Qual geração rasca qual o quê! Somos os maiores e as nossas mochilas duraram anos!